EUA intensificam política militarista

A <i>simpatia</i> de Obama e o <i>Smart Power</i>

A estratégia política de Obama – o Smart Power (Poder Inteligente) – é mais perigosa do que a de guerra tradicional seguida pelo seu antecessor Bush.

«A es­tra­tégia po­lí­tica de Obama é mais pe­ri­gosa do que a de Bush»

A instalação de bases militares na Colômbia, o golpe de Estado nas Honduras e o conflito Colombo-venezuelano, para além do recrudescimento da guerra no Afeganistão, as crescentes ameaças de ataque ao Irão e à Coreia do Norte, são um claro sinal de que a política militarista dos EUA não só vai continuar como intensificar-se com a administração de Barack Obama. A conclusão é da advogada e investigadora norte-americana de origem venezuelana Eva Golinger, que em recente entrevista à agência de notícias bolivariana ABN sustentou que a estratégia política de Obama – o (Poder In­te­li­gente) – é mais pe­ri­gosa do que a se­guida pelo seu an­te­cessor Bush.
De acordo com a in­ves­ti­ga­dora, Bush pautou a sua po­lí­tica pela dou­trina de guerra tra­di­ci­onal, en­quanto Obama está a pro­mover a «guerra ir­re­gular».
«A tác­tica tra­di­ci­onal usa as forças ar­madas pró­prias para o com­bate e bom­bar­deio das forças ini­migas (...) e a tác­tica ir­re­gular (Smart Power) ca­rac­te­riza-se pelo uso de forças mi­li­tares com­bi­nado com a di­plo­macia, ope­ra­ções psi­co­ló­gicas e mé­todos po­lí­ticos para pe­ne­trar na po­pu­lação e levar a cabo uma guerra que não se as­se­melhe a um campo de ba­talha», re­fere Go­linger, que não he­sita em afirmar o ca­rácter im­pe­ri­a­lista da po­lí­tica dos EUA, seja qual for a forma como se apre­senta.

Mi­lhões de dó­lares para a contra-re­vo­lução

«Desde 2008, Washington co­meçou no­va­mente a in­te­ressar-se pelo Sul. Foi nessa base que se jus­ti­ficou a re­ac­ti­vação da IV Es­quadra no Ca­ribe e se con­si­derou a pos­si­bi­li­dade de re­tirar al­gumas tropas do Iraque para as en­viar para o Co­mando Sul, e assim con­verter a re­gião sul-ame­ri­cana numa zona de ope­ra­ções», lembra a in­ves­ti­ga­dora, su­bli­nhando que os «EUA apenas re­o­ri­en­taram os seus me­ca­nismos de ope­ração porque re­co­nhecem que os ad­ver­sá­rios e a dis­tri­buição do poder mu­daram na re­gião».
Essa mu­dança de tác­tica está bem pa­tente nas enormes verbas in­ves­tidas em ac­ti­vi­dades de de­fesa, ser­viços de in­for­mação, ma­no­bras de de­ses­ta­bi­li­zação e contra-re­vo­lu­ci­o­ná­rias na Amé­rica La­tina, afirma Eva Go­linger, fa­zendo notar que o De­par­ta­mento de Es­tado dis­po­ni­bi­lizou 520 mi­lhões de dó­lares, em 2009, para o Plano Colômbia. Me­tade desse di­nheiro, ga­rante, vai para as mãos de en­ti­dades pri­vadas norte-ame­ri­canas en­car­re­gadas de im­pul­si­onar a guerra ir­re­gular em ter­ri­tório co­lom­biano e la­tino-ame­ri­cano. Essas en­ti­dades mer­ce­ná­rias – da lista do De­par­ta­mento de Es­tado constam mais de trinta – não res­pondem pe­rante ne­nhuma au­to­ri­dade ju­di­cial do mundo. «Como parte do acordo, [os mer­ce­ná­rios] têm imu­ni­dade total na Colômbia, ou seja, não res­pondem pe­rante nin­guém pelos seus crimes, ac­ções e ope­ra­ções», su­blinha a in­ves­ti­ga­dora, ga­ran­tindo que entre as en­ti­dades en­vol­vidas fi­guram a Lockheed-Martin, a Dyn Corp In­ter­na­ti­onal, Arinc, Oac­kley, ITT, Es­pi­o­nagem Echelon, Grupo de Rendón (TRG), entre ou­tras. A tí­tulo de exemplo da di­mensão do «ne­gócio», Eva Go­linger re­feriu que só o Grupo Rendón fez um con­trato de 3,4 mi­lhões de dó­lares com o De­par­ta­mento de Es­tado para «apoio co­mu­ni­ca­ci­onal» ao Plano Colômbia.

O Grupo de Rendón

Vale a pena reter al­guns ex­certos do que o Grupo de Rendón diz de si pró­prio no seu portal na In­ternet:
«A ex­pe­ri­ência do Grupo de Rendón ba­seia-se em 25 anos de po­lí­tica e de ex­pe­ri­ência em con­sul­ta­doria de co­mu­ni­ca­ções, no en­foque para a aná­lise dos meios de co­mu­ni­cação, e no êxito de­mons­trado de apli­cação ima­gi­na­tiva e de vá­rias ini­ci­a­tivas de re­la­ções pú­blicas. Até à data, tra­ba­lhámos em 91 países na pla­ni­fi­cação e gestão es­tra­té­gica e tác­tica de pro­gramas de co­mu­ni­ca­ções em África, nas Amé­ricas, Ásia, Eu­ropa e Médio Ori­ente...».
Quanto ao mentor do grupo, o portal re­fere:
«John W. Rendón, Jr, CEO e Pre­si­dente em exer­cício do Grupo de Rendón (...) é re­co­nhe­cido in­ter­na­ci­o­nal­mente como ex­pe­ri­men­tado e ino­vador em ma­téria de co­mu­ni­cação es­tra­té­gica (...), co­la­borou com um alto as­sessor de co­mu­ni­cação da Casa Branca, o De­par­ta­mento de De­fesa dos EUA, altos fun­ci­o­ná­rios pú­blicos e mi­li­tares nos EUA e no plano in­ter­na­ci­onal (...)».
O «mé­rito» de Rendón é re­co­nhe­cido pelo Pen­tá­gono, que o en­car­regou de gerir grande parte da cam­panha me­diá­tica contra a Ve­ne­zuela e o Equador.


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